domingo, 11 de dezembro de 2011

A MULHER NO COMANDO

TRÊS MULHERES RECEBEM O PREMIO NOBEL DA PAZ, LÁ!
 
UMA MULHER ASSUME A PRESIDÊNCIA DO ROTARY CLUBE DE BOA ESPERANÇA, AQUI!

A entrega dos prêmios às duas liberianas e à iemenita aconteceu em Oslo.
A presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, a também liberiana Leymah Gbowee e a iemenita Tawakkol Karman, figura de liderança da "Primavera Árabe", receberam neste sábado, em Oslo, o prêmio Nobel da Paz.

Sirleaf, a primeira mulher eleita presidente na África, e Gbowee são reconhecidas pela atuação para mobilizar as liberianas contra a guerra civil no país, enquanto Karman participa ativamente da luta pela democracia no Iêmen. Fonte A Gazeta 11/12/2011,  “Mundo”  pag. 53.

Enquanto as liberianas e a iemenita recebem por lá o Prêmio Nobel da Paz, vamos por aqui, unidos com o mesmo objetivo, não apenas sonhando com essa paz tão desejada, mas é de extrema importância fazermos algo real.

Acontecerá em Boa Esperança-ES, no próximo sábado, 17/12/2011 com início às 19 horas, a Assembléia de Fundação do Rotary Club de Boa Esperança, tendo à sua frente uma mulher de muita  garra, luta, persistência e determinação em tudo o que faz, ela é a  Especialista  em Planejamento, Gestão: Pedagógica e Administração, Supervisão e Programação Neurolinguística.

DSC_0001.JPG EDNA ROSSIM, que tomará posse juntamente com os demais sócios fundadores do Rotary Clube de Boa Esperança onde juntos terão a desafiadora missão de governar no ano rotário 2011/2012.

Lembrando que o Clube tem como padrinhos, o Rotary Clube de Nova Venécia e São Gabriel da Palha. Nesta oportunidade, desejamos à Presidenta do Rotary Club de Boa Esperança, Edna Rossim, muito sucesso em sua jornada, para que possa administrar com muita perseverança, a fim de cumprir com Lema, Objetivo e Ensinamentos: “Dar de si antes de pensar em si”.

(Texto: José Oliveira de Souza (Boa Esperança-ES) - Pós Graduando do Curso de Gestão em Políticas Públicas em Gênero e Raça - UFES – Polo Nova Venécia.

A violência é negra

Pesquisa do professor Marcelo Paixão, da UFRJ, sobre violência sexual contra mulheres mostra que as negras e pardas são maiores vítimas.
De 2009 a 2010, foram 15.994, considerados apenas os casos denunciados. Ou seja, a cada hora, duas negras ou pardas são submetidas a violência sexual.
Segue...
Entre as denunciantes, 45% eram negras ou pardas; 40%, brancas; e 13% não tiveram a cor declarada na notificação.
Entre 2009 e 2010, foram 10.378 vítimas de estupro (49% negras ou pardas, 38% brancas e 12% sem cor declarada).
E mais...
No período, 3.045 denunciaram assédio sexual (43% negras ou pardas, 40% brancas e 16% sem cor declarada).
As negras e pardas também formaram a maioria das vítimas de pornografia infantil (50,3%) e exploração sexual (51,9%). (Fonte: A Gazeta-ES, 11/12/2011)

Capixaba está mais confiante com as finanças da família neste fim de ano.
O desemprego aparece como o ítem que assusta mais as mulheres que os homens pesquisados. Na Grande Vitória, 18,5% delas afirmam que o desemprego vai aumentar nos próximos três meses
As finanças das famílias capixabas está melhor neste final de ano do que há seis meses. É o que revela a pesquisa de Índice de Confiança e Expectativa do Consumidor da Grande Vitória (ICEC - GV). De acordo com os dados, 57,5% dos homens responderam que a situação está melhor, contra 52,3% das mulheres. No entanto, apenas 4,1% dos homens responderam que a situação piorou, assim como 7,3% das mulheres entrevistadas.
O  indicador é elaborado pela Faculdade Doctum da Unidade Serra que busca sintetizar a opinião dos residentes na Região Metropolitana da Grande Vitória quanto à conjuntura naqueles aspectos capazes de afetar as suas decisões de consumo futuro.
Já o ICC, Índice de Confiança do Consumidor para as condições econômicas atuais, mostra que os habitantes da Grande Vitória estão com boas expectativas e já alcançam o início da faixa mais alta da pesquisa. Mas no longo prazo, o capixaba permanece com um perspectiva de consumo moderada.
Dívidas
Em relação às dívidas domésticas dos entrevistados, a pesquisa revela que 22,2% das mulheres estão mais endividadas que no passado, contra 16,6% dos homens. Porém, no geral, 48,8% dos entrevistados estão menos endividados hoje em relação aos últimos seis meses.
Compras
Mesmo estando na melhor época para o comércio e compra de presente neste fim de ano, o capixaba também pensa no futuro. O morador da Grande Vitória está mais pessimista quando perguntado sobre compra de bens de maior valor. 36,7% afirmaram que pretendem reduzir suas compras nos próximos 6 meses. O percentual de homens com a intenção de redução de compras é de 30,6% dos entrevistados.
Desemprego
O desemprego aparece como o ítem que assusta mais as mulheres que os homens pesquisados. Na Grande Vitória, 18,5% delas afirmam que o desemprego vai aumentar nos próximos três meses, contra 14,5% dos homens. No entanto, em função do tradicional aquecimento do comércio no final do ano, 45,3% de todos os entrevistados acreditam na redução do desemprego até março de 2012.
O pagamento do 13º salário e outras bonificações tradicionais de final de ano também influenciaram o capixaba quanto ao seu rendimento pessoal: a maioria acredita que vai ter mais dinheiro no bolso nos próximos três meses.
As pesquisas de opinião pública foram realizadas nos municípios de Vitória, Serra, Vila Velha e Cariacica, entre os dias 24 de outubro e 24 de novembro. Os dados foram coletados por alunos do curso de graduação em administração da Faculdade Doctum, sob a coordenação geral do Professor Paulo Cezar Ribeiro. (Fonte: A Gazeta-ES, 11/12/2011)

sábado, 10 de dezembro de 2011


Racismo é ignorância

O Projeto Genoma Humano comprovou o que quase todos os estudiosos já sabiam: só existe na Terra uma única espécie humana, chamada homo sapiens. O que chamávamos de "raça" se resume a cor da pele.
Em comparação com a pele de outros primatas, a pele humana possui menor pelagem. A cor do pêlo e da pele é determinada pela presença de pigmentos, chamados melaninas. A maioria dos autores acredita que o escurecimento da pele foi uma adaptação que evoluiu como uma defesa contra a radiação solar ultravioleta (UV); a melanina é uma substância eficaz contra esta radiação. A cor da pele, em humanos atuais, pode variar desde o castanho escuro até ao rosa pálido. A distribuição geográfica da cor da pele correlaciona com os níveis ambientais de raios UV. A cor do pêlo e da pele humana é controlada, em parte, pelo gene MC1R. Por exemplo, o cabelo ruivo e pele pálida de alguns europeus é o resultado de mutações no gene MC1R. A pele humana tem a capacidade de escurecer (bronzeamento) em resposta à exposição a raios UV. A variação na capacidade de bronzeamento também éparcialmente controlado pelo gene MC1R. (parágrafo retirado da Wikipedia)
Portanto, se nossas crianças continuarem sendo educadas na ignorância, não poderemos reclamar dos resultados desse tipo de teste.
Parece-me que as pessoas muitas vezes, ao demonstrar certo racismo, não se importam de serem alertadas para o fato: levam na brincadeira. Tudo bem que a maioria felizmente não chega aos exageros de nosso passado sombrio, mas enquanto levarem "na brincadeira", a ignorância se perpetuará... Talvez seja melhor não chamá-las mais de racistas, mas de IGNORANTES. Assim talvez prestem maior atenção a própria ignorância, e procurem melhorar.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

PRECONCEITUOSOS! VOCÊ É?

VENCENDO PRECONCEITOS

O jeito como os negros/as iniciaram seus primeiros movimentos contra o preconceito que de forma alarmante os rechaçavam, não lhes permitiam uma vida social com a etnia de cor branca, de forma digna, honrosa e respeitosa.
movimento-negro
Esse preconceito tem sido marcado por grandes sequelas, por terem os negros/as deixado de galgar seus espaços, por serem considerados ao longo da história, mão-de-obra desqualificada, raça mais fraca e menos inteligentes,  o que jamais condiz a verdade.
Foi com intensa luta para combater a discriminação que os/as negros/as passaram a frequentar espaços criados por sua etnia: clubes, festas, bailes, teatros, enfim, locais onde se sentiam bem com sua gente.
Os mais cultos dotados de maior conhecimento, ou seja, de uma certa intelectualidade, trabalhavam incansavelmente pelos mais fracos. Os jornais formados e dirigidos pela etnia negra publicavam seus discursos contra a discriminação elevando a grandiosidade da raça para que estes se encorajassem a cada dia, para que num tempo futuro fosse de fato reconhecida a igualdade, e ela foi pingando gotas por gotas... tempos mais além são proclamados cidadãos/ãs.
É o início profícuo de uma incansável luta, de um trabalho que não tem hora para acabar. O objetivo sempre foi gritar o mais alto possível para que o Estado  ouvisse-lhes e se responsabilizasse pelas mazelas deixadas, por permitir o uso de uma força humana como se gente não fossem, com tamanha brutalidade ignorando os seus próprios sensos de humanidade, se é que tinham!
A cada movimento levantado, visando o enfrentamento e o acompanhamento das constantes modificações na politica brasileira da época, os/as Negros/as se organizavam, ora o Movimento de Mulheres Negras, ora o de homens negros e aí, paulatinamente vão fazendo com que seus gritos, seus apelos, ecoassem nos ouvidos dos governantes, com o intuito de incluir em suas agendas, propostas possíveis de serem concretizadas em verdadeiras políticas públicas para a transformação social dos negros/as, já que os brancos sempre foram os dominantes na causa em discussão.
Com esses movimentos é que hoje temos no Congresso vários/as parlamentares negros/as lutando, brigando pela valorização, pela socialização e pela educação da etnia. Se não fosse a luta dessa gente, não teríamos a Secretaria de Política Racial, voltada para as questões de Gênero e Raça no Brasil e pelo restabelecimento dos direitos dos quilombolas, que tiveram usurpadas as suas terras pelos grandes proprietários brancos, deixando-os à mercê da sorte. Não teríamos também sem a luta, a Secretaria da Mulher, Delegacia da Mulher, A  Lei Maria da Penha.
O Ponto alto de todo esse aparato é a nossa Constituição de 1988, também chamada de Constituição Cidadã, justamente por dedicar vários artigos para envolver toda essa questão, primeiramente no  artigo 3º, que trata dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
 III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Já o artigo 5º, vem para nos agraciar com tamanha eloquência e realidade em realção ao tema, que pode ser considerado hodiernamente, um instituto jurídico da igualdade. Quem o ousa  afrontá-lo?. 
Artigo 5º- Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
Quando reprimo quem afrontar o artigo 5º, é devido à segurança que a própria Constituição nos oferece, pois em seu artigo 60, §4º, Inciso IV, assim nos orienta: os direitos coletivos e individuais incutidos neste artigo não é objeto de emenda constitucional. Somente o poder originário é capaz de promover alterações ou até mesmo os abolir. O poder derivado, jamais. Então, estamos envoltos a uma segurança jurídica.
E não é para menos, vem prevalecendo a premissa de que a maioria vence, tomamos como exemplo a eleição dos Estados Unidos, pela primeira vez em sua história um homem negro ocupa a presidência mais poderosa do mundo, isso foi uma grande conquista dessa etnia, as mudanças estão ocorrendo, mas para tudo tem explicação, veja só o que a Instituição PNAD colheu do povo brasileiro em recente pesquisa.
O povo está se empardecendo. Veja que a população parda já passa dos 50%, transcrevemos a matéria extraída da pagina no endereço:
 http://cenpah.blogspot.com/2010/01/populacao-negra-no-brasil-ja-e-503.html
“Em um ano, a população brasileira ganhou 3,2 milhões de pessoas auto declaradas pardas, enquanto viu desaparecer 450 mil brancos e 1 milhão de pretos. É o que indicam os dados deste ano da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira. Além do crescimento em números absolutos, os pardos aumentaram a sua participação na base populacional em termos percentuais.
Em 2007, a população residente no país era composta por 48,4% de pessoas brancas, 43,8% de pardas, 6,8% de pretas e 0,9% de amarelas e indígenas. Um ano depois, houve uma elevação de 1,3 ponto percentual na proporção de brasileiros declarados pardos e uma redução das populações pretas (0,7 ponto percentual) e brancas (0,8 ponto percentual).
As razões do "empardecimento" da população
Para especialistas, este fenômeno não deve ser atribuído apenas à variação da taxa de nascimentos e óbitos. Como a pesquisa é baseada na autodeclaração dos entrevistados e a noção de raça é uma construção social, esta variação pode ter raízes em questões subjetivas, ligadas ao sentimento de pertencer a uma determinada etnia, ao preconceito ou mesmo uma reação ao debate sobre políticas afirmativas no Brasil.”
E, finalmente, não há uma nação que possa ser desenvolvida se não respeitar os direitos humanos, combater incansavelmente a discriminação é zelar pelo próximo e pela prevalência dos Direitos humanos, de uma sociedade justa e igualitária.
José Oliveira de Souza ( Boa Esperança-ES). Polo Nova Venécia – ES - Fontes: Unidade IV – Modulo III do Curso GPP-GeR;
Constituição da República Federativa do Brasil;
Site:http://cenpah.blogspot.com/2010/01/populacao-negra-no-brasil-ja-e-503.html,


sábado, 3 de dezembro de 2011


ALÉM DA LIBERDADE ESTÉTICA
Solano Trindade soube como ninguém retratar de forma simples e lírica as mazelas de um povo explorado, como Zumbi dos Palmares, homenageado no Dia Nacional da Consciência Negra
      Solano Trindade (1908-1974) nasceu no Recife e passou para a história com o epíteto de poeta do povo. Para analisar a sua obra, uma frase dita por ele é fundamental: "Pesquisar na fonte de origem e devolver ao povo em forma de arte". Ao assumir esta posição, carrega as consequências que sua atitude pode acarretar: o preconceito, a discriminação e a marginalização na literatura brasileira, ocupando posição periférica nesse panorama da estratificação social que se reproduz também dentro da instituição Literatura. Sua produção coincide com o Modernismo no Brasil. Entretanto, nunca foi inserido nesse movimento. Trindade integra um movimento à parte, de escritores marginalizados por setores oficiais, o movimento denominado Literatura negra ou afro-brasileira. Ainda assim, encontramos na sua poesia características modernistas: versos livres, em linguagem coloquial, aparentemente simples. Segundo Oluemi dos Santos, o Modernismo propicia a eclosão da poética negra, exatamente porque nesse momento passa a vigorar "melhores condições para aflorar uma poesia negra no Brasil", a partir de reformulações de valores estéticos que preconizavam uma maior valorização das raízes nacionais. Entretanto, quanto ao mérito, no que tange à inclusão do negro na literatura, Benedita Damasceno, autora do livro "Poesia negra no modernismo brasileiro", observa: "Antes de se atribuir ao Modernismo a maior parcela na reabilitação da cultura negra, é importante lembrar que o movimento teve correntes diversas e até mesmo opostas. Algumas dessas correntes, como o Antropofagismo, nem sequer cogitaram da existência do negro".

LIBERDADE

 
A autora chama atenção para a importância da tendência mineira Leite Criôlo que "quebrou o silêncio em torno do negro dentro do Modernismo". Contudo, é inegável que reformulações dos padrões estéticos nessa época, trouxeram maior liberdade quanto à forma: métrica, ritmos e expressão de seus pensamentos, sentimentos, experiências e também quanto ao tema, incluindo-se aí a temática negra. Solano Trindade, além da liberdade estética, contava ainda romper através da sua escrita, as amarras impostas com a escravização para encontrar o sentido da verdadeira liberdade. Sendo assim, Trindade buscou na figura de Zumbi dos Palmares a inspiração para muitos versos, em poemas antológicos como "Sou negro", "Zumbi", e "Canto dos Palmares". No conjunto da sua obra, "Canto dos Palmares", com 195 versos, se destaca. "Longo e de tom épico, o poema define uma das temáticas mais correntes em Cantares ao meu povo, a identidade negra e seu resgate", como pontua Oluemi dos Santos. No ensaio Zumbi dos Palmares na poesia negra brasileira, Zilá Bernd traça histórico da presença heroica de Zumbi na literatura do país. Desde Castro Alves, passando por Solano Trindade, Abdias do Nascimento, Edimilson de Almeida Pereira e Domício Proença Filho. Entre esses nomes, ela reconhece Trindade como o primeiro a dar "a dimensão épica que o episódio requeria"

LIMITE

Tradicionalmente definida como o gênero literário que narra as grandes ações históricas e feitos heroicos, encontramos em Massaud Moisés uma acepção interessante: "É a poesia em que o poeta se reflete para fora de si, alargando o eu até o limite do nós: na subjetividade do poeta se reflete um povo, uma raça e mesmo toda a humanidade". Ele também aponta para uma mudança quanto à figura do herói no seio do épico com o advento do Romantismo, que começa a transformar estruturas tradicionais. Dessa forma, observa-se a abertura de espaço para o surgimento do não-herói ou anti-herói rói, como vemos em “Canto dos Palmares”, onde ocorre uma inversão de valores, pois não mais seria um épico de reis e rainhas, nos moldes tradicionais, que celebra feitos vitoriosos dos heróis das epopeias grega, romana ou portuguesa, como se observa logo no início do poema:
_ Eu canto aos Palmares sem inveja de Virgílio, de Homero de Camões.
Porque o meu canto é o grito de uma raça em plena luta pela liberdade!
O escritor, ao dar voz a um povo oprimido, se organiza para a conquista do seu direito à liberdade, por uma sociedade mais justa, menos desigual. Assim ele opera um deslocamento onde os citados autores deixam descer parâmetros para sua escrita. Pelo contrário, ao romper com os moldes tradicionais, no lugar de reis e rainhas, Trindade coloca a figura de Zumbi dos Palmares, um ex escravo transformado no poema em herói.

OLHAR
Virgílio, Homero e Camões não são evocados como modelos que devem ter seus ideais colonizadores assimilados pelo escritor negro, mas como referencial que evidencia a alteridade, a diferença do discurso literário negro. A literatura produzida por Solano Trindade se insere na perspectiva de um descentramento do olhas etnográfico.

Assim no épico quilombola, Zumbi, mesmo vencido é transformado em Herói. Cantar o episódio marcante da história dos afro brasileiros é para o poeta tão importante quanto o foi para a tradição ocidental celebrar feitos reais e míticos através da épica clássica e reconta-los noutra perspectiva, num discurso contemporâneo. Assim, Zumbi sobrevive e conclama seus irmãos  a continuarem lutando através dos séculos.
_ Ainda sou poeta
Meu poema levanta os meus irmãos.
Minhas amadas se preparam para a luta,
Os tambores não são mais pacíficos,
Até os Palmares têm amor à liberdade...

Lembremos que Trindade cita Zumbi também no poema “ Sou negro”: “meu avô brigou como um danado nas terras de Zumbi...”. Se em Luiz Gama  - Precursor da poesia negra brasileira – temos um poema intitulado com a pergunta Quem sou eu?, em seu herdeiro direto, Solano Trindade, encontramos a resposta afirmativa da negritude num sonoro “Sou negro”. O que não quer dizer que Gama também não o tenha feito.
Em “Bodarrada” outro título para “quem sou eu?”, o poeta assume o epíteto que lhe foi lançado como desaroso de negro o bode” e o reverte para aqueles que o lançaram.
_Se negro sou, ou sou bode, pouco importa. O que isto pode?
Bodes há de toda casta,
Pois que a espécie é  muito vasta...”

IDENTIDADE
Em "Sou negro", Trindade assume sua identidade negra, como nunca antes tinha sido feito por alguém na poesia brasileira, de forma tão plena, desde o título até o fim do poema. Não por acaso, Solano Trindade tornou-se nome obrigatório nas antologias poéticas afro-brasileiras, pelo seu poder simbólico de representação de um discurso negro na literatura. Se no século XX, ele deu continuidade à linha de poesia negra, inaugurada por Caldas Barbosa no século XVIII, e Luis Gama no século XIX, nos anos 70, iniciativas como as dos Cadernos Negros e do Quilombhoje ­ coletivos de poetas negros ­ darão prosseguimento a essa postura, tendo já como referências esses nomes. Por fim, nesta temática do Quilombo dos Palmares na poesia, , podemos mencionar ainda: “poemas sobre Palmares de Oliveira Silveira”, publicado em 1987, “Dionizio esfacelado – Quilombo dos Palmares” (1984), de Domicio Proença Filho e “escalando a Serra da Barriga”, de Abdias do Nascimento.
Estes escritores, em diferentes épocas, são irmanados pelo mesmo espírito rebelde em busca da afirmação de uma identidade negra e da valorização e uma estética afro-brasileira. O movimento dos povos relegados às posições subalternas, ao reivindicar e afirmar suas identidades,  pensamentos e direitos à fala, foi fundamental no processo de revisão histórica.

Fonte: A Gazeta, ES. 19/11/2011




sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A Mulher Negra

A situação da mulher negra no Brasil de hoje manifesta um prolongamento da sua realidade vivida no período de escravidão com poucas mudanças, pois ela continua em último lugar na escala social e é aquela que mais carrega as desvantagens do sistema injusto e racista do país. Inúmeras pesquisas realizadas nos últimos anos mostram que a mulher negra apresenta menor nível de escolaridade, trabalha mais, porém com rendimento menor, e as poucas que conseguem romper as barreiras do preconceito e da discriminação racial e ascender socialmente têm menos possibilidade de encontrar companheiros no mercado matrimonial.

A mulher negra ao longo de sua história foi a “espinha dorsal” de sua família, que muitas vezes constitui-se dela mesma e dos filhos. Quando a mulher negra teve companheiro, especialmente na pós-abolição, significou alguém a mais para ser sustentado. O Brasil, que se favoreceu do trabalho escravo ao longo de mais de quatro séculos, colocou à margem o seu principal agente construtor, o negro, que passou a viver na miséria, sem trabalho, sem possibilidade de sobrevivência em condições dignas. Com o incentivo do governo brasileiro à imigração estrangeira e à tentativa de extirpar o negro da sociedade brasileira, houve maciça tentativa de embranquecer o Brasil.
Provavelmente o mais cruel de todos os males foi retirar da população negra a sua dignidade enquanto raça remetendo a questão da negritude aos porões da sociedade. O próprio negro, em alguns casos, não se reconhece, e uma das principais lutas do movimento negro e de estudiosos comprometidos com a defesa da dignidade humana é contribuir  para o resgate da cidadania do negro.
A pobreza e a marginalidade a que é submetida a mulher negra reforça o preconceito e a interiorização da condição de inferioridade, que em muitos casos inibe a reação e luta contra a discriminação sofrida. O ingresso no mercado de trabalho do negro ainda criança e a submissão a salários baixíssimos reforçam o estigma da inferioridade em que muitos negros vivem. Contudo, não podemos deixar de considerar que esse horizonte não é absoluto e mesmo com toda a barbárie do racismo há uma parcela de mulheres negras que conseguiram vencer as adversidades e chegar à universidade, utilizando-a como ponte para o sucesso profissional.
Embora o contexto adverso, algumas mulheres negras vivem a experiência da mobilidade social processada em “ritmo lento”, pois além da origem escrava, ser negra no Brasil constitui um real empecilho na trajetória da busca da cidadania e da  ascensão social. Bernardo (1998), em seu trabalho sobre a memória de velhas negras na cidade de São Paulo, mostra como é difícil a mobilidade ascensional da negra - especialmente na conquista de um emprego melhor, pois a maioria das negras trabalhava na informalidade, ou como empregadas domésticas.
As mulheres negras que conquistam melhores cargos no mercado de trabalho despendem uma força muito maior que outros setores da sociedade, sendo que algumas provavelmente pagam um preço alto pela conquista, muitas vezes, abdicando do lazer, da realização da maternidade, do namoro ou casamento. Pois, além da necessidade de comprovar a competência profissional, têm de lidar com o preconceito e a discriminação racial que lhes exigem maiores esforços para a conquista do ideal pretendido. A questão de gênero é, em si, um complicador, mas, quando somada à da raça, significa as maiores dificuldades para os seus agentes.
Paul Singer (1998) afirma que, à medida que a mulher negra ascende, aumentam as dificuldades especialmente devido à concorrência Em serviços domésticos que não representam prestígio não há concorrência e conseqüentemente as mulheres negras têm livre acesso e é nesse campo que se encontra o maior número delas. A população negra trabalha, geralmente, em posições menos qualificadas e recebe os mais baixos salários.
A mulher negra, portanto, tem que dispor de uma grande energia para superar as dificuldades que se impõe na busca da sua cidadania. Poucas mulheres negras conseguem ascender socialmente. Contudo, é possível constatar que está ocorrendo um aumento do número de mulheres negras nas universidades nos últimos anos. Talvez a partir desse contexto se possa vislumbrar uma realidade menos opressora para os negros, especialmente para a mulher negra.
Contudo, cabe ressaltar a experiência de mulheres negras na luta pela superação do preconceito e discriminação racial no ingresso no mercado de trabalho. Algumas mulheres atribuem a “façanha” da conquista do emprego do sucesso profissional a um espírito de luta e coragem, fruto de muito esforço pessoal, e outras ainda, ao apoio de entidades do movimento negro.
Na atualidade não se pode tratar a questão racial como elemento secundário, destacando apenas a problemática econômica. A posição social do negro não se baseia apenas na possibilidade de aquisição ou consumo de bens. Ainda há uma grande dificuldade da sociedade brasileira em assumir a questão racial como um problema que necessita ser enfrentado. Enquanto esse processo de enfrentamento não ocorrer, as desigualdades sociais baseadas na discriminação racial continuarão, e, com tendência ao acirramento, ainda mais quando se trata de igualdade de oportunidades em todos os aspectos da sociedade.
A discriminação racial na vida das mulheres negras é constante; apesar disso, muitas constituíram estratégias próprias para superar as dificuldades decorrentes dessa problemática.
(MARIA NILZA DA SILVA) Professora no Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina e Doutoranda na PUC/SP  
 Fonte: http://www.espacoacademico.com.br/022/22csilva.htm

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

IGUALDADE RACIAL

                    
                                A democracia racial existe ou se trata de um mito?

No Brasil, a história de seus conflitos e problemas envolveu bem mais do que a formação de classes sociais distintas por sua condição material. Nas origens da sociedade colonial, o nosso país ficou marcado pela questão do racismo e, especificamente, pela exclusão dos negros. Mais que uma simples herança de nosso passado, essa problemática racial toca o nosso dia a dia de diferentes formas.
Em nossa cultura poderíamos enumerar o vasto número de piadas e termos que mostram como a distinção racial é algo corrente em nosso cotidiano. Quando alguém autodefine que sua pele é negra, muitos se sentem deslocados. Parece ter sido dito algum tipo de termo extremista. Talvez chegamos a pensar que alguém só é negro quando tem pele “muito escura”. Com certeza, esse tipo de estranhamento e pensamento não é misteriosamente inexplicável. O desconforto, na verdade, denuncia nossa indefinição mediante a ideia da diversidade racial.

É bem verdade que o conceito de raça em si é inconsistente, já que do ponto de vista científico nenhum indivíduo da mesma espécie possui características biológicas (ou psicológicas) singulares. Porém, o saber racional nem sempre controla nossos valores e práticas culturais. A fenotipia do indivíduo acaba formando uma série de distinções que surgem no movimento de experiências históricas que se configuraram ao longo dos anos. Seja no Brasil ou em qualquer sociedade, os valores da nossa cultura não reproduzem integralmente as ideias da nossa ciência.

Dessa maneira, é no passado onde podemos levantar as questões sobre como o brasileiro lida com a questão racial. A escravidão africana instituída em solo brasileiro, mesmo sendo justificada por preceitos de ordem religiosa, perpetuou uma ideia corrente onde as tarefas braçais e subalternas são de responsabilidade dos negros. O branco, europeu e civilizado, tinha como papel, no ambiente colonial, liderar e conduzir as ações a serem desenvolvidas. Em outras palavras, uns (brancos) nasceram para o mando, e outros (negros) para a obediência.

No entanto, também devemos levar em consideração que o nosso racismo veio acompanhado de seu contraditório: a miscigenação. Colocada por uns como uma estratégia de ocupação, a miscigenação questiona se realmente somos ou não pertencentes a uma cultura racista. Para outros, o mestiço definitivamente comprova que o enlace sexual entre os diferentes atesta que nosso país não é racista. Surge então o mito da chamada democracia racial.

Sistematizado na obra “Casa Grande & Senzala”, de Gilberto Freyre, o conceito de democracia racial coloca a escravidão para fora da simples ótica da dominação. A condição do escravo, nessa obra, é historicamente articulada com relatos e dados onde os escravos vivem situações diferentes do trabalho compulsório nas casas e lavouras. De fato, muitos escravos viveram situações em que desfrutavam de certo conforto material ou ocupavam posições de confiança e prestígio na hierarquia da sociedade colonial. Os próprios documentos utilizados na obra de Freyre apontam essa tendência.

Porém, a miscigenação não exclui os preconceitos. Nossa última constituição coloca a discriminação racial como um crime inafiançável. Entre nossas discussões proferimos, ao mesmo tempo, horror ao racismo e admitimos publicamente que o Brasil é um país racista. Tal contradição indica que nosso racismo é velado e, nem por isso, pulsante. Queremos ter um discurso sobre o negro, mas não vemos a urgência de algum tipo de mobilização a favor da resolução desse problema.

Ultimamente, os sistemas de cotas e a criação de um ministério voltado para essa única questão demonstram o tamanho do nosso problema. Ainda aceitamos distinguir o negro do moreno, em uma aquarela de tons onde o último ocupa uma situação melhor que a do primeiro. Desta maneira, criamos a estranha situação onde “todos os outros podem ser racistas, menos eu... é claro!”. Isso nos indica que o alcance da democracia é um assunto tão difícil e complexo como a nossa relação com o negro no Brasil.
Por Rainer Sousa
Mestre em História

Fonte: http://www.brasilescola.com/historia/democracia-racial.htm


sábado, 19 de novembro de 2011

Dia da Consciência Negra - 20/11

O Dia da Consciência Negra é um dia muito importante para nós brasileiros, pois é um dia dedicado à reflexão acerca da importância da cultura e do povo africano na sociedade brasileira. Nesse dia nos lembramos que os negros colaboraram muito na história do Brasil, seja nos aspectos políticos, sociais, gastronômicos ou culturais. Por isso devemos valorizar essa cultura, esse povo que tanto sofreu e que faz parte da história do nosso país.
O Dia da Consciência Negra é comemorado no dia 20 de novembro no Brasil, essa data foi escolhida em homenagem ao Zumbi dos Palmares que morreu nesse dia, em 1695. Zumbi foi o grande líder do quilombo dos Palmares, considerado um herói, pois resistiu bravamente à escravidão.
Segundo pesquisadores, Zumbi nasceu em 1655 e descendia de guerreiros angolanos.Ele foi capturado por soldados ainda menino, e entregue ao Padre Antonio Melo, de Porto Calvo, que o criou e o educou, aos 12 anos, Zumbi, que foi batizado com o nome de Francisco, já tinha uma boa noção de Português e Latim, mostrando ser muito inteligente.

Com 15 anos, Zumbi fugiu para o Quilombo e tornou-se um dos líderes mais famosos de Palmares, sendo o último chefe do Quilombo dos Palmares. Zumbi significa a força do espírito presente. 

O quilombo foi defendido no século XVII por Zumbi durante anos contra as expedições militares que queriam trazer os negros fugidos de volta à vida de escravidão. Zumbi lutou bravamente até a morte, seu feito foi tão memorável que em 2003 o dia 20 de novembro foi incluído no calendário escolar, assim se tornando o Dia Nacional da Consciência Negra, através da lei 10.639, e por essa mesma lei o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira se tornou obrigatório.
Acesse o seguinte link, e faça uma reflexão sobre o dia 20/11.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O Brasil de muitas cores

 
O Brasil é formado por muitas cores, vindas de quase todas as regiões do mundo. Essa combinação de diferentes povos e culturas é, sem dúvida, uma característica da população brasileira.

Mas, se essa diversidade é uma riqueza, por que ainda persistem desigualdades nas oportunidades? Com o crescimento econômico brasileiro das últimas décadas, o analfabetismo caiu, a população tornou-se predominantemente urbana e o sistema de ensino superior passou por uma grande expansão.
Em geral, as desigualdades de renda diminuíram resultado de políticas salariais e de transferência de renda aliadas a forte política de proteção social e expansão industrial. Mesmo assim, as desigualdades raciais persistiram e, em alguns aspectos, continuam críticas.

Embora as políticas públicas no país tenham sido construídas para todas as crianças, ainda não foram universalizadas em seus efeitos. Estudos socioeconômicos e análises do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) mostram que os avanços alcançados não conseguiram ainda gerar impactos suficientes nas situações de desigualdades da população -sobretudo de crianças, adolescentes e mulheres negras e indígenas. A falta de acesso a serviços impõe obstáculos a negros e indígenas mesmo antes do nascimento.
Apenas 43,8% das grávidas negras têm acesso ao mínimo de sete consultas pré-natais, indicador que entre as brancas é de 72,4%.

Tal fato produz um efeito imediato e devastador na vida da criança.Um bebê negro tem 25% mais chance de morrer antes do primeiro aniversário do que uma criança branca. Essa desigualdade é mais assustadora entre crianças indígenas, que têm duas vezes mais chances de não sobreviver aos primeiros 12 meses de vida em relação às crianças brancas.
O racismo também compromete o direito de aprender. Uma criança indígena tem quase três vezes mais chance de estar fora da escola do que uma criança branca.

Da mesma forma, do total de 530 mil crianças de sete a 14 anos que não estudam, 62% são negras (Pnad, 2009).Na adolescência, encontramos uma das faces mais cruéis do impacto do racismo. O Índice de Homicídios na Adolescência (IHA) mostrou que um adolescente negro que vive nas cidades com mais de 100 mil habitantes tem 2,6 vezes mais risco de morrer vítima de homicídio do que um branco.

Quando se fala em pobreza, a iniquidade segue o mesmo perfil. No país, 45,6% das crianças vivem em famílias pobres (renda per capita de até meio salário mínimo). São 26 milhões de crianças nessa situação. Dessas, 17 milhões são negras.

A análise segundo a cor de pele confirma a desigualdade socioeconômica e revela uma profunda desigualdade racial. Entre as crianças brancas, a pobreza atinge 32,9%; entre as crianças negras, 56%.

As estatísticas oficiais mostram uma situação de desvantagem e exclusão que tem reflexos muito concretos na vida de crianças e adolescentes. A criança, ao vivenciar esse cotidiano de desigualdade, tem a percepção de que negros, brancos e indígenas ocupam lugares diferentes na sociedade.

Por isso, torna-se fundamental uma socialização que desconstrua essa percepção, contribuindo dessa forma para mudar a realidade.A campanha que o Unicef acaba de lançar promove a reflexão sobre essas disparidades raciais. O objetivo é alertar a sociedade sobre o impacto do racismo na infância e na adolescência e estimular iniciativas de redução das desigualdades.

Não podemos aceitar que a cor da pele determine a vida de crianças. Afinal, qual sorriso é mais bonito? Qual vida vale mais? Reconhecer e lutar contra o impacto do racismo na infância é condição primordial para uma sociedade que deseja garantir a igualdade de oportunidades e a valorização da diversidade para todos.

(MARIE-PIERRE POIRIER, 49, economista, é representante do UNICEF, no Brasil)