segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Entrevista com Maria Alice Setubal


A socióloga aponta a urgência de colocar os educadores no centro das políticas públicas e critica a avaliação superficial que muitos economistas fazem da situação do ensino no Brasil.

É cada vez maior o número de economistas que investigam o porquê do fracasso escolar. Alguns desses estudos apontam como solução a gestão, deixando de lado o trabalho do professor e a necessidade de ampliar os investimentos na área. Essa abordagem é criticada por Maria Alice Setubal, socióloga e presidente do Conselho de Administração do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), após ter se debruçado sobre algumas pesquisas desse tipo. O trabalho resultou no artigo Equidade e Desempenho Escolar: É Possível Alcançar uma Educação de Qualidade para Todos? Publicado na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (RBEP).

Em entrevista à Nova Escola, ela retoma o assunto e amplia o debate sobre a equidade e a qualidade da Educação. Maria Alice valoriza o olhar objetivo que os economistas trouxeram para a área, mas reclama das análises que supervalorizam aspectos relacionados a gestão, avaliação e responsabilização da escola pelo mal desempenho dos alunos. Para ela, é preciso colocar os educadores em pé de igualdade com os economistas.

Em que a abordagem dos economistas difere da feita por pesquisadores da área da Educação?

MARIA ALICE SETUBAL Em geral, os primeiros reconhecem o impacto de um bom professor sobre o aprendizado dos alunos, mas, como esse é um indicador difícil de mensurar, as análises são concentradas em outros pontos, mais periféricos, como a gestão. Outro problema é que, na maioria dos casos, as análises ficam restritas aos números e não focam a sala de aula. Por isso, acho que é preciso colocar os educadores em pé de igualdade com os economistas. Não se trata de uma competição para definir quem sabe mais, nem mesmo de uma abordagem quantitativa versus outra qualitativa. A contribuição dos professores é o olhar que incide no pedagógico.

O trabalho dos economistas tem influenciado as políticas públicas?

MARIA ALICE Sim, à medida que priorizam alguns eixos da Educação e apresentam muitos números, que são comunicados com facilidade e têm caráter simbólico forte. Esse olhar objetivo é importante. Mas é preciso cuidado ao analisar informações como a de que intervenções na escola ou na sala de aula são responsáveis por 20% do desempenho dos estudantes a curto prazo. Quem não é da área dificilmente entende como dados dessa natureza são calculados. Reconheço o mérito dos economistas, assim como a defasagem dos educadores nesse campo, pois infelizmente são poucos os que fazem estudos de impacto. Há muitas pessoas brilhantes na Educação realizando pesquisas, é claro, mas o enfoque é teórico ou somente relata a prática. Precisamos de pesquisas consistentes sobre como os alunos aprendem e como se deve ensinar.

Muitos pesquisadores classificam o trabalho do professor como determinante para a aprendizagem. Por outro lado, eles apostam na gestão para superar o fracasso escolar. Há divergências entre as ações que buscam solucionar o problema?

MARIA ALICE Avaliar o trabalho em sala de aula é difícil. Aspectos como esse não são um objeto de pesquisa dos economistas. Minha crítica é que muitas vezes eles reforçam o discurso de que gestão e avaliação resolvem todos os problemas. Isso não é verdade. Não podemos esquecer o professor e o estudante. Não faz sentido só olhar para aspectos periféricos, como a gestão, e achar que tudo será resolvido.

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